terça-feira, 15 de janeiro de 2013

E O COTISMO ATACA OUTRA VEZ

"A obrigação da universidade não é mais propor soluções para a sociedade. É ser sua reprodução “melhorada”. É ser um laboratório igualitarista da ciência do cotismo. Paciência não é a única virtude necessária para aturar os defensores de um negócio desses."

 

Um bando de estrangeiros de outros estados decidiu aterrissar em massa na UFS via Enem. Os policarpos do provincianismo chinfrim começaram a choramingar pelos sergipanos. Decretaram o fim do ensino médio em Sergipe. Desceram a ripa na educação pública, na educação privada, nas bancas escolares, nos preceptores, nas governantas, nas escolas que não existem, nas quem nem foram criadas, chutaram cachorro morto e internado. A queda do número de sergipanos na UFS tornou-se um índice de fracasso. Se os sergipanos não conseguem passar nem na universidade local, é preciso repensar a “educação sergipana”. Analfabetos sabem que não existe uma "educação sergipana". Sergipe é só um estadozinho. Obedece ordens. Mas a noção do “quem joga em casa tem a obrigação de ganhar”, fácil e familiar, é contagiosa.

O senso comum não acredita mais na universidade como uma ferramenta de redistribuição social. Agora, ele tem certeza. Qualquer estatística mostrando que uma universidade aprovou menos sergipanos, menos índios ou menos corinthianos se tornou alvo de especulações apocalípticas e projetos alvoroçados de reengenharia. A obrigação da universidade não é mais propor soluções para a sociedade. É ser sua reprodução “melhorada”. É ser um laboratório igualitarista da ciência do cotismo. Paciência não é a única virtude necessária para aturar os defensores de um negócio desses.

A aprovação de “estrangeiros” em Sergipe obedece a fatores impossíveis de medir. A natureza diferencial do Enem é apenas majoritária. Quem  decreta o fim do ensino médio por aqui também terá de garantir que um sergipano formado pela UFS permanecerá no estado e engordará as estatísticas de mão de obra qualificada. Quem tem cacife para querer uma reforma da “educação sergipense” também terá de assegurar que um baiano ou paulista formado pela UFS voltará para sua terra natal. Porque só assim a aprovação de um sergipano se torna melhor para Sergipe do que a de um estrangeiro.

A educação brasileira não precisa de dinheiro. Dar dinheiro a um fracassado é apenas permitir que ele fracasse com mais estilo. A educação no Brasil precisa de um reboot. Estão esperando que ela acabe de vez para fazê-lo. E ela só não acabou por uma razão: a meritocracia do vestibular. Enquanto os policarpos querem uma universidade cheia de vizinhos e parentes, o vestibular comete a indelicadeza de exigir preparo. Venha ele do vizinho, do parente ou do estrangeiro.