sábado, 1 de dezembro de 2012

O PRESENTE DIVINO DO CEAC

"Quanto menos o Ceac atende, melhor ele atende. Quanto melhor o Ceac atende, melhor a satisfação cidadã, melhor a fidelização do contribuinte ao local, melhor a tão sacrossanta imagem do governo. Mas os funcionários do Ceac reclamam como se houvesse lucro. Os funcionários do Ceac reclamam como se tivessem participação nesse lucro. Os funcionários do Ceac reclamam como se funcionário público reclamasse de menos trabalho."

    
Tenho uma teoria. O nome dela é Teoria do Apitaço Auto-desmoralizante.  Ela afirma que o apitaço contra as taxas de estacionamento foi uma manobra idealizada pelos próprios donos dos shoppings para desmoralizar o boicote. 

É a única coisa que explica a participação de movimentos sociais, sindicatos e diretórios estudantis no protesto. Porque toda vez que um movimento social, sindicato ou diretório estudantil se envolve em alguma coisa, ela perde imediatamente sua importância. Vira pantomima. Vira teatro. Vira palhaçada. Vira Movimento Não Pago. Vira Movimento Passe Livre. O que os prováveis articuladores dessa manifestação não previram o peculiar estado de animosidade dos funcionários do Ceac. Eles gostaram do apitaço. Eles são a nota de rodapé da Teoria do Apitaço Auto-desmoralizante.

Inspirados na palhaçada e no teatro, funcionários do Ceac Riomar pretendem paralisar as atividades. Eles querem se isentar da taxa. Para fazê-lo, estão considerando uma intervenção de calourada muito mais eficiente do que se reunir com os mandantes da cobrança. Eles também reclamam que graças à cobrança nos estacionamentos o movimento do Ceac caiu 45%. Estranho. Até onde se sabe, uma queda de 45% no movimento do Ceac seria motivo de comemoração. Ceac não é empresa de fins lucrativos. É um complexo de órgãos públicos que existe para agilizar emissão de documentos. Quando sua capacidade ameaça se aproximar dos 100%, é mais provável que um ou outro sistema caia ou uma ou outra fila fique empacada. Quando o movimento cai pela metade, o atendimento melhora. A fila anda. O cidadão sai satisfeito. E ainda pega um cineminha.


Quanto menos o Ceac atende, melhor ele atende. Quanto melhor o Ceac atende, melhor a satisfação cidadã, melhor a fidelização do contribuinte ao local, melhor a tão sacrossanta imagem do governo. Mas os funcionários do Ceac reclamam como se houvesse lucro. Os funcionários do Ceac reclamam como se tivessem participação nesse lucro. Os funcionários do Ceac reclamam como se funcionário público reclamasse de menos trabalho.  

Meu palpite é que a desimportância propositiva de movimentos sociais, sindicatos e diretórios estudantis é um troço contagioso. Para eles, não é só cobrar estacionamento que é feio. Feio é ganhar dinheiro. Já que a redistribuição social nos termos de uma economia de mercado, individualista e meritocrática é complicada, que pelo menos se aplique um muro de contenção para quem faz o papel de “opressor”. Os donos de shopping fazem esse papel. Os funcionários do Ceac acreditam. E com o roteiro dos movimentos sociais, sindicatos e diretórios estudantis na mão, os funcionários do Ceac começam a ensaiar o papel de oprimidos.

Em si mesmo, o apitaço contra a taxa de estacionamento apenas provou que essa estranha instância chamada “sociedade organizada” é uma vergonhosa nulidade. É suficiente notar que a manifestação aconteceu no interior de um ambiente privado como se todos estivessem na praça do Bugio. Isso demonstra que não havia ali um único mamífero capaz de definir, com coerência, onde se inicia o patrimônio público e onde termina o privado. Isso também determina que não havia um ali único organismo capaz de articular, com propriedade, alguma coisa que estivesse acima do oba-oba descerebrado de manobras de massa. Quem não sabe onde se inicia o público e onde termina o privado não sabe viver em sociedade. Quem consegue ser sugado pelo oba-oba não pensa. Quem não sabe viver em sociedade e não pensa não pode reivindicar nada.

Os funcionários do Ceac deveriam ensaiar um papel mais original. O de reivindicadores civilizados de legítimos privilégios. Depois disso, deveriam jogar fora o roteiro da “crasse trabaiadora” e fazer a festa. Porque 45% a menos de trabalho não é castigo de patrão. É uma nota de rodapé no serviço público. É presente divino.

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